Biografia
Augusto Chaves Batista nasceu em Santo Amaro (Bahia, Brasil) em 15 de junho de 1916, filho de José Otaviano Batista e Teodora Amélia Chaves Batista. Cursou o ensino fundamental e o médio em Santo Amaro, e em dezembro de 1937 concluiu o curso de Agronomia pela Escola Agrícola da Bahia, que então funcionava em Salvador (hoje Faculdade de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, em Cruz das Almas), destacando-se em 1º lugar na turma. Teve como mestre em fitopatologia e micologia o cientista emérito, Padre Camille Torrend, a quem homenageou colocando o seu nome no Herbário URM. Ao se formar, trabalhou como Agrônomo no Rio de Janeiro (1938) e no Mato Grosso (1939), indo depois lecionar Física, Química, História Natural e Geografia no Colégio Antônio Vieira, Salvador, BA (1940-1942). A partir de 1940 fez várias viagens para estudos adicionais, se especializando em Bacteriologia, Fitopatologia e Microtécnicas na A & M Graduate School, onde foi considerado aluno excelente; frequentou também a Texas Agricultural Experimental Station, ambas nos Estados Unidos da América. Em 1946 o Professor Chaves Batista interrompeu as atividades na Bahia para ingressar na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Recife, PE, como professor de Fitopatologia e de Microbiologia do Solo, sendo nomeado também para o Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco, chefiando a Seção de Fitopatologia. No período de 1950 a 1951 estagiou no Commonwealth Mycological Institute (atual International Mycological Institute, IMI), Inglaterra. Em 1954, ficou à frente da fundação e organização do Instituto de Micologia da então Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco, à qual o Instituto foi depois incorporado como Departamento de Micologia, sendo nomeado como primeiro Diretor, cargo que ocupou até falecer. Esse foi o primeiro e único Instituto de Pesquisas, na América Latina, dedicado inteiramente ao estudo dos fungos. A partir da criação do Instituto de Micologia, dedicou o melhor de sua capacidade para a identificação de fungos, conduzindo intensas pesquisas e análises abordando tanto a micologia pura, quanto aplicada. O Professor Chaves Batista também direcionou suas atividades à Microbiologia do Solo e conduziu pesquisas sobre a mobilização mineral por fungos, além de estudar as relações desses com outros microorganismos do solo. Tentou, dessa forma, encontrar maneiras de melhorar os solos do Norte e Nordeste do Brasil, aumentando os seus índices de fertilidade. Vários desses trabalhos, que incluíam a prospecção de fungos, foram conduzidos, entre outros, nos estados do: Amazonas, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco e Roraima. As pesquisas no Instituto de Micologia eram desenvolvidas com aporte financeiro gerado por convênios, entre os quais com o Ministério da Agricultura, o Ministério das Minas e Energia, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, o Instituto do Açúcar do Álcool e com os Governos dos Estados de: Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão e Amazonas. Os trabalhos envolviam cerca de uma centena de funcionários (pesquisadores, técnicos e pessoal administrativo), a maioria mantida com verba dos convênios. Como destacado, "a força de persuasão e a integridade do caráter do Professor Chaves Batista, assim como seu idealismo tornaram possível ao Instituto de Micologia, encontrar o necessário suporte financeiro em agências governamentais estaduais e federais para, pelo menos enquanto esteve vivo, manter a continuidade das pesquisas" (http://www.cybertruffle.org.uk/people/0001525_.htm). Além disso, o Professor também obtinha recursos no exterior, como mencionado no Annual Report (1958) da Rockefeller Foundation, USA, onde estão registradas verbas concedidas a pesquisadores americanos para realizarem investigações no Instituto de Micologia e para o próprio Professor Chaves Batista visitar diversas instituições europeias de pesquisa micológica. Participou e adquiriu considerável experiência em congressos internacionais em quase todos os países da América Latina e na Inglaterra, França, Suíça, Itália e Portugal. Também recebeu regularmente a visita de micologistas de diversos países, para troca de experiências, estabelecendo parcerias em trabalhos taxonômicos. Como exemplo, apenas em 1963-1964, foram registradas as seguintes visitas ao Instituto de Micologia: Dr. Peter Walker, National Institute of Medical Research, London, England; Dr. Wheear, Reitor da Colorado State University, USA; Dr. Leo Y. Miedler, University of Michigan Medical Center, Ann Arbor, USA; Dr. H. Roeser-Bonnet, Institute of Tropical Hygiene, Amsterdam, Holanda; Dr. S.K. Shome, West Bengal University, Índia; Col. Leonard Orman, Chefe do Latin America Research Office; Prof. Metry Bacilla, Instituto de Bioquímica, Paraná; Prof. Amadeu Cury, Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Dr. Antonio Couceiro, Vice-Presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Dr. José Ermírio de Morais, Ministro da Agricultura do Brasil (Mycological Society Newsletter, 1962, 1963). O Professor Chaves Batista foi considerado, dentro e fora do Brasil, um cientista de rara habilidade, não se especializando apenas em um grupo particular de fungos, mas publicando trabalhos sobre vários tipos de microorganismos. Além disso, foi excelente taxonomista, dedicando estudos particularmente às variações morfológicas dos fungos. Essas qualidades lhe valeram o título de "O mais versátil micologista", uma qualificação dada por Dr. C.G. Ainsworth, do Commonwealth Mycological Institute. Na expressão do Dr. J.A. von Arx, foi "a energia do Instituto de Micologia e um cientista entusiasmado que conseguiu realizar suas ambições". Foi membro de muitas sociedades científicas, entre as quais a Sociedade de Botânica do Brasil (atuando como Tesoureiro do 4º Congresso Nacional de Botânica, realizado em Recife, 1953), a Academia Brasileira de Ciências, The British Mycological Society, The International Association for Plant Taxonomy e The Mycological Society of América (MSA). Foi Vice-Presidente da Sociedade de Biologia de Pernambuco (1954-1955) e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Micologia (1960); atuou como membro da 1ª Session Européenne de Mycologie, Bruxelas (1956), da Academia Brasileira de Ciências (1956) e da UNESCO, para assuntos de Micologia (1957). Foi ainda redator da Revista de Biologia (Portugal), membro do Conselho Editorial da Mycopathologia et Mycologia Applicata (Holanda) e do Conselho Científico da Folha Médica (Rio de Janeiro). Como membro da MSA, sempre enviava notícias para serem divulgadas sobre o Instituto de Micologia, inclusive colocando anúncios para contratação de pesquisadores. Em 1963, por exemplo, anunciou a existência de duas vagas, no Instituto, para interessados em Microbiologia do Solo e Hyphomycetes e Ascomycetes. Desse modo buscava trazer, para os quadros do Instituto, pessoal qualificado do país e do exterior, visando ampliar as pesquisas micológicas. Recebeu várias premiações, entre as quais o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Recife (1954), a Medalha de Honra (1956) e de Cavalheiro de São Ciro (1959), ambas da Universidade de Pávia, Itália, a Medalha de Mérito da Cidade do Recife (1963). Além disso, ocupou a cadeira No. 17 da galeria de Micologistas Notáveis, na Holanda (1958). No Brasil recebeu ainda o Prêmio Moinho Recife (1965), concedido em reconhecimento à sua excelência como cientista e pesquisador. Essa iniciativa dos Grandes Moinhos do Brasil S.A. tem ampla repercussão e os premiados são escolhidos pela contribuição de suas obras, como atestam as homenagens prestadas ao pesquisador, cujo brilhante discurso durante a sessão de outorga do prêmio foi depois publicado (Batista, 1967). Contribuiu para a publicação de cinco livros e mais de 700 artigos, onde constam mais de 4.600 descrições de fungos representando 3.440 binômios e trinômios em mais de 1.160 gêneros e cerca de 160 famílias. A maioria desses artigos apareceu como uma série numerada (Publicações do IMUR - Instituto de Micologia, Universidade do Recife), sendo publicados também em diversas revistas científicas como Brotéria, Memórias da Sociedade Broteriana, Mycophatologia et Mycologie Applicata, Nova Hedwigia, Portugaliae Acta Biologica, Revista Dermatologia Venezolana, Revista Brasileira de Microbiologia, Rivista de Patologia Vegetale, Saccardoa, Sydowia, e em diversos Anais de Congressos. Contribuiu ainda com várias matérias de divulgação técnica sobre micologia e microbiologia em jornais do Rio de Janeiro, de Mato Grosso, da Bahia e de Pernambuco. Com extrema capacidade para o trabalho, o Professor Chaves Batista despendia diariamente, em média, 12 horas ininterruptas em pesquisas e nos demais afazeres no Instituto de Micologia. Por sua dedicação levou o nome do Instituto a todos os continentes e por sua capacidade como pesquisador, associados aos notáveis resultados obtidos em pesquisas em diversas áreas (agrícola, médica, microbiológica, taxonômica), ocupa um lugar de respeito e admiração no país e no exterior. Ainda hoje, mais de 45 anos após o falecimento, os seus trabalhos são consultados e referidos nas mais importantes publicações em micologia. Como lembrado pelos colegas, o Professor desejava morrer trabalhando, o que ocorreu em 30 de novembro de 1967, após sofrer uma hemorragia cerebral em seu gabinete, no Instituto de Micologia. Precocemente falecido aos 51 anos, deixou um legado inestimável e pelo trabalho realizado o Professor Chaves Batista é ainda hoje considerado o maior micologista do Brasil e sem dúvida foi o que mais contribuiu para os estudos taxonômicos e o conhecimento da diversidade de fungos no país.Referência
Batista, A.C. 1967. Micologia: algumas de suas implicações político-sócio-econômicas. Recife, Secretaria de Coordenação do Prêmio Moinho Recife 1965 e Empresa Jornal do Comércio. Carneiro, L.S. 1968. Augusto Chaves Batista (1916-1967). Mycologia 60(6): 1137-1139. Kirk, PM.; Cannon, P.F.; Minter, D.W.; Stalpers, J.A. 2008. Ainsworth & Bisby’s Dictionary of the Fungi. 10th ed. CABI Europe. Mycological Society of America, 1962, 1963. Newsletter, Vol. XIII, No. 2, 1962; Vol. XIV, No. 1 e 2, 1963. Singer, R. 1969. Augusto Chaves Batista (1916-1967). Sydowia 22: 343-359